Divã Cultural: Diário de Bordo: Rogério Ferraz entrevista o ator Julio Adrião, sobre o espetáculo "A Descoberta das Américas" em Teatro Nathalia Timberg, no Rio de Janeiro.

A partir do texto original do dramaturgo Dario Fo, com direção de Alessandra Vannucci; tradução e adaptação de Alessandra Vannucci e Julio Adrião; o famoso monólogo encenado pelo ator, já comemora mais de 10 anos em circuito, em teatros de mais de 80 cidades, em 8 países, de 4 continentes. Nas palavras da saudosa Barbara Heliodora: "O trabalho de Julio Adrião é de primeira ordem, uma obra de ourivesaria em detalhe que preserva a ilusão de improvisação, o fluxo da narrativa dando sempre a ideia de que foi falado um detalhe que provocou a lembrança do seguinte". (O Globo - 27/10/2005).

Julio Adrião interpreta Johan Padan, personagem que testemunha a sua história simples, se converter numa inacreditável aventura. Depois de escapar da fogueira da Inquisição, valendo-se de sua esperteza habitual, embarca numa das caravelas de Colombo, terminando por desbravar involuntariamente pelo curso dos acontecimentos, um estranho e fascinante novo mundo; onde passa por experiências únicas, vivenciando vários perigos, como um naufrágio e até mesmo, tornando-se alvo de um grupo de canibais. Conseguindo sempre escapar ileso, com a força de seu carisma, cativando os nativos, a partir de seus truques e de uma generosa dose de sorte; passa a ser venerado como filho do sol e da lua, iniciando a catequese dos índios, num esforço de libertá-los do domínio de invasores espanhóis.

"Durante estes dez anos, tentamos entender como jogar a Descoberta. Como fazer a platéia jogar. A condição inicial de renunciar a qualquer aparato - só tínhamos uma boa história, uma rede e um figurino - ganhou ares de aposta. Conseguiríamos jogar a peça sem cenário ? Só com a rede ? Viajamos assim, só com a rede, por anos, até percebermos que não precisávamos de rede, porque cada espectador podia criar uma em sua cabeça, assim como criava batalhas, tribos de índios, reis e rainhas, peixes, navios e naufrágios. Tiramos a rede, conseguindo dobrar o valor poético da aposta. E fomos largando marcas, descobrindo truques, soltando diabos, falando línguas estranhas. A platéia jogando, torcendo, sugerindo gestos e falas, como fazem os jogadores no banco. Há poucos dias percebemos que não precisamos de figurino. Nesta noite, que aqui compartilhamos, Ele chega da rua, assim como vocês, vem acolhendo, circula, conversa e certa hora, a viagem começa: "Embora ... vamos partir ! Soltar as amarras ! Levantar ancora ! Subir vela mestra !!".

Alessandra Vannucci

04 de fevereiro de 2016

"A Descoberta das Américas", está em cartaz até 31 de julho; sextas e sábados, às 21 horas; domingos às 19 horas, no Teatro Nathalia Timberg. Imperdível !