No último sábado, 17 de dezembro, a Fundação Cidade das Artes, organizou um dia inteiro de programação gratuita para celebrar a chegada do Natal e o encerramento das atividades de 2016; no período das 10 às 22 horas.
Entre os destaques na área teatral, no período da tarde, a leitura da peça "UBU REI", com Marco Nanini e Rosi Campos, acompanhados pela Cia Atores de Laura; sob a direção de Daniel Herz. A obra de Alfred Jarry, um dos mais emblemáticos da dramaturgia contemporânea; marcou o início do teatro de vanguarda, influenciando até o Surrealismo; destacando-se historicamente por apresentar inovações que o teatro de sua época não praticava. Uma comédia popular, de alta categoria artística, que marca o início do teatro do absurdo.
No início da noite, a dramaturgia de Hamilton Vaz Pereira, foi celebrada pelo lançamento da coletânea de suas obras, intitulada, "O Cão Comendo Mariola", mesma denominação dada à sequencia de leituras dramatizadas, ao longo de quatro semanas, no início do segundo semestre deste ano. Líder do "Asdrúbal Trouxe o Trombone", grupo carioca cuja temática, personagens e modo de representar eram característicos da geração jovem da década de 70; sua linguagem assume como centro de investigação o cotidiano da equipe de atores, reunindo uma série de princípios definidores da produção dos grupos teatrais dos anos 70, mantendo o seu estilo até hoje.
Em meio a uma diversidade tão abrangente de eventos, a maior parte deles acontecendo simultaneamente em diferentes espaços, envolvendo teatro, dança, oficinas artesanais para crianças, música (do clássico ao moderno; da linguagem folclórica e popular à influencia rítmica internacional, como na batida do velho e bom jazz; sem deixar de abrir as portas para a tradição do samba, com encerramento da noite, a cargo da apresentação da "Velha Guarda da Portela"; confesso que tive de optar por acompanhar as atividades teatrais, em razão de uma convidada muito especial, que tive a meu lado, assistindo tanto a leitura da peça "UBU REI", como da visita ao lançamento do conjunto da obra teatral do ator, autor e diretor, Hamilton Vaz Pereira. A convidada tão querida a que me refiro, representa também um marco do nosso Teatro: a atriz, autora e diretora, Ticiana Studart; uma criatura humana da mais rica sensibilidade e generosidade, que tenho o privilégio de compartilhar de tão acolhedora amizade.
Galeria de Imagens
Com Marco Nanini e Ticiana Studart
Com Hamilton Vaz Pereira
Hamilton Vaz Pereira autografando sua coletânea
Hamilton Vaz Pereira, Marco Nanini e Rosi Campos
Com a atriz, autora e diretora Ticiana Studart
Com a atriz Glória Pires, após a leitura de Fernanda Montenegro
Com Affonso Romano de Sant'Anna e Marina Colassanti
Com a escritora Nélida Plñon
A leitura de Nelson, é composta por cronicas arrebatadoras, impiedosas, plenas de amor; humanizadas até onde um ser humano possa ir. Ele dizia, "eu sou um brasileiro feroz. Eu sou da minha pátria, eu sou da minha língua, eu sou da minha rua." (Fernanda Montenegro)
Em "Nelson Rodrigues por ele mesmo", leitura dramatizada do livro de sua filha Sonia Rodrigues, que reúne cronicas não publicadas do dramaturgo, temos a atriz em cena, conversando com a platéia sobre os muitos anos de trabalho, amizade e convívio com o autor. Nelson Rodrigues expressava sua fascinação pela jovem atriz Fernanda Montenegro, no início da convivencia, denominando-a "musa sereníssima". Uma Sarah Bernard em primeira audição, como gosta de recordar Fernanda Montenegro.
Durante o transcorrer da leitura, o público é convidado pela força da palavra de Nelson e pela interpretação sensível e visceral de Fernanda, a mergulhar no sofrido, romantico e ambivalente universo de Nelson Rodrigues, tornando-se confidente de sua impetuosidade reacionária, de suas culpas, de sua solidão e ao mesmo tempo, do impressionante desnudamento de sua alma, expondo convicções, dúvidas e desilusões; numa comunhão existencial da mais desconcertante verdade e beleza. A partir de certo instante, é tão grande a sinergia entre a intérprete e o autor, que parecemos sentir a presença de Nelson, pela voz de Fernanda; em magnífica performance.
Ao final do espetáculo, depois de duas apresentações praticamente consecutivas, com exíguo intervalo de tempo; Fernanda já demonstrava na voz e no olhar, o prazeroso cansaço da entrega cenica. Na foto acima, uma breve troca de idéias com ela e o grande amigo, Hamilton Vaz Pereira, que lhe entregara minutos antes a coletânea de suas primeiras obras em teatro; pouco antes de solicitar aos dois uma foto para registrar aquele significativo encontro que guardarei sempre na lembrança.
O Divã Cultural deseja a todos um Feliz Natal e um 2017 de muita esperança.
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