domingo, 17 de abril de 2016

Diário de Bordo: Rogério Ferraz entrevista as psicanalistas Marília Flores e Gilda Pitombo Mesquita sobre o projeto Interlocuções: "O Despertar Da Estranheza No Leitor"






 Marília Flores, Gilda Pitombo Mesquita e Rogério Ferraz na sala de leitura da Cidade das Artes.




A temática do conto fantástico do século XIX é a realidade daquilo que se vê, onde se poderia acreditar ou desacreditar nas aparições fantasmagóricas; percebendo ou não, por trás da aparência cotidiana, a possibilidade de outros mundos encantados ou infernais, onde tudo o que fosse extraordinariamente "estranho", aguçaria nossos sentidos e capturaria o olhar do Inconsciente.  "O Homem da Areia", do escritor alemão Ernest Theodor Amadeus Hoffman, é uma obra literária típica dessa atmosfera do fantástico; em que personagens e imagens da tranquila vida burguesa, se transfiguram em aparições grotescas, tenebrosas, diabólicas, como no rico universo onírico dos pesadelos infantis.  No texto de Hoffman, em resumo, um homem se remete a lembrança infantil de uma história contada pela babá, onde o homem da areia seria uma criatura perversa, que chegaria quando as crianças não fossem para cama, jogando areia em seus olhos, que saltariam para fora; e o homem os levaria para alimentar seus filhos na Lua.  O menino Natanael, relaciona este personagem fantasmagórico ao visitante de passos pesados, que o pai recebia após o jantar em certas ocasiões.  Para descobrir mais sobre ele, o menino se esconde no escritório paterno, testemunhando o que pareceria um experimento alquímico.  Descoberto, Natanael é ameaçado de ter os olhos arrancados e desmaia.  Quando o misterioso visitante retorna outra vez à casa, ocorre uma explosão, onde o pai do menino é morto.  Na vida adulta, Natanael certo dia, reconhece o advogado Copélius, o estranho visitante no escritório do pai.  A partir daí, o fantasma do passado volta a atormentá-lo em plena maturidade, gerando toda forma de simbolismos persecutórios.
No estudo psicanalítico dos sonhos, das fantasias e dos mitos, o medo de ferir o de ficar cego, configura-se muitas vezes, como o temor de ser castrado.  O autocegamento de Édipo, na tragédia grega, poderia ser interpretado como uma forma atenuada de castigo da castração.  No conto de Hoffman, por que o temor no que se refere à perda dos olhos, estaria relacionado à morte do pai ?  Por que o homem da areia  aparece na vida adulta de Natanael, como um perturbador do amor ?
Estas e outras questões estarão sendo muito bem comentadas durante a leitura em grupo, promovida pelo evento Interlocuções "O Despertar Da Estranheza No Leitor"; idealizado e organizado pelas psicanalistas Marília Flores e Gilda Pitombo Mesquita, na Sala de Leitura da Cidade das Artes.  A proposta é ler em grupo e em voz alta, alguns trechos de Hoffman, Freud, entre outros autores, para abordar a partir do enfoque psicanalítico, os temas da sedução e do desejo.  Freud considerou Hoffman "o mestre inigualável do estranhamento inquietante na criação literária", incorporando-o no que diz respeito ao estranho-familiar.  Os encontros na sala de leitura, realizam-se quinzenalmente, todas as sextas a partir das 16 horas, com número máximo de 20 participantes.  Compareça e conheça de perto, este belo encontro literário e científico.  Seguem as datas das próximas reuniões:
Abril - 15 e 29  /  Maio - 13 e 20
Junho - 03 e 17  / Julho - 01, 15 e 29
Programação gratuita. 

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