Marília Flores, Gilda Pitombo Mesquita e Rogério Ferraz na sala de leitura da Cidade das Artes.
A temática do conto fantástico do século XIX é a realidade daquilo que se vê, onde se poderia acreditar ou desacreditar nas aparições fantasmagóricas; percebendo ou não, por trás da aparência cotidiana, a possibilidade de outros mundos encantados ou infernais, onde tudo o que fosse extraordinariamente "estranho", aguçaria nossos sentidos e capturaria o olhar do Inconsciente. "O Homem da Areia", do escritor alemão Ernest Theodor Amadeus Hoffman, é uma obra literária típica dessa atmosfera do fantástico; em que personagens e imagens da tranquila vida burguesa, se transfiguram em aparições grotescas, tenebrosas, diabólicas, como no rico universo onírico dos pesadelos infantis. No texto de Hoffman, em resumo, um homem se remete a lembrança infantil de uma história contada pela babá, onde o homem da areia seria uma criatura perversa, que chegaria quando as crianças não fossem para cama, jogando areia em seus olhos, que saltariam para fora; e o homem os levaria para alimentar seus filhos na Lua. O menino Natanael, relaciona este personagem fantasmagórico ao visitante de passos pesados, que o pai recebia após o jantar em certas ocasiões. Para descobrir mais sobre ele, o menino se esconde no escritório paterno, testemunhando o que pareceria um experimento alquímico. Descoberto, Natanael é ameaçado de ter os olhos arrancados e desmaia. Quando o misterioso visitante retorna outra vez à casa, ocorre uma explosão, onde o pai do menino é morto. Na vida adulta, Natanael certo dia, reconhece o advogado Copélius, o estranho visitante no escritório do pai. A partir daí, o fantasma do passado volta a atormentá-lo em plena maturidade, gerando toda forma de simbolismos persecutórios.
No estudo psicanalítico dos sonhos, das fantasias e dos mitos, o medo de ferir o de ficar cego, configura-se muitas vezes, como o temor de ser castrado. O autocegamento de Édipo, na tragédia grega, poderia ser interpretado como uma forma atenuada de castigo da castração. No conto de Hoffman, por que o temor no que se refere à perda dos olhos, estaria relacionado à morte do pai ? Por que o homem da areia aparece na vida adulta de Natanael, como um perturbador do amor ?
Estas e outras questões estarão sendo muito bem comentadas durante a leitura em grupo, promovida pelo evento Interlocuções "O Despertar Da Estranheza No Leitor"; idealizado e organizado pelas psicanalistas Marília Flores e Gilda Pitombo Mesquita, na Sala de Leitura da Cidade das Artes. A proposta é ler em grupo e em voz alta, alguns trechos de Hoffman, Freud, entre outros autores, para abordar a partir do enfoque psicanalítico, os temas da sedução e do desejo. Freud considerou Hoffman "o mestre inigualável do estranhamento inquietante na criação literária", incorporando-o no que diz respeito ao estranho-familiar. Os encontros na sala de leitura, realizam-se quinzenalmente, todas as sextas a partir das 16 horas, com número máximo de 20 participantes. Compareça e conheça de perto, este belo encontro literário e científico. Seguem as datas das próximas reuniões:
Abril - 15 e 29 / Maio - 13 e 20
Junho - 03 e 17 / Julho - 01, 15 e 29
Programação gratuita.
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