Nada mais "freudiano" do que um texto de Nelson Rodrigues. Como já dizia Sigmund Freud, "Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos". E o teatro de Nelson Rodrigues, constitui a prova mais evidente desta verdade psicanalítica. Entre tantas obras emblemáticas, como "Vestido de Noiva", "Toda Nudez Será Castigada", "Perdoa-me Por Me Traíres", "Os Sete Gatinhos", "Otto Lara Resende Ou Bonitinha Mas Ordinária" (atualmente em nova montagem no Rio, no teatro da ABI); o polêmico gênio de nossa dramaturgia, incomodava o puritanismo hipócrita de uma sociedade conservadora, estereotipada; desde os seus primeiros espetáculos no início dos anos quarenta, auge do colapso de nossa civilização, que atravessava o período de duas hediondas guerras mundiais. Suas peças não eram datadas; não carregavam o estigma de um frenesi criativo momentâneo. Continham a essência universal, atemporal, das tragédias gregas; da arqueologia social, política e psicológica, dos textos shakespereanos; mesmo quando aparentemente falavam de situações típicas do cenário urbano carioca ou do cotidiano brasileiro.
O roteiro nelsonrodrigueano, sempre foi povoado por arquétipos da natureza humana, suplantando toda e qualquer barreira geográfica ou histórica. Suas personagens, esculpidas por sentimentos ambivalentes e paradoxais, nos fazem encarar de frente todas as faces de nossa personalidade, escondidas sob sucessivas máscaras de farsesca adaptação social. Brutais, ingênuos, sarcásticos, impostores, românticos, suicidas; enfim, uma diversidade de tipos psicológicos, podem ser revisitados em suas obras, que parecem contextualizar duas outras observações freudianas, realizadas no século passado, capazes de confirmar mais do que nunca, a contemporaneidade distópica em que vivemos, naufragando entre a falência da globalização e os extremismos da intolerância, tanto nas redes sociais, como testemunhando diariamente "a vida como ela é". Freud dizia: "É quase impossível conciliar as exigências do impulso sexual e da agressividade, com as da civilização". E pouco tempo depois, acrescentaria em outro de seus textos: "Em última análise, precisamos amar para não adoecer". Esta dualidade de assumir o incontestável, sem desfazer de uma perspectiva de esperança na consciência humana também está presente na obra de Nelson, especialmente na possibilidade de redenção, assumida pelo casal protagonista de "Otto Lara Resende Ou Bonitinha Mas Ordinária". Neste espetáculo, a frase atribuída a Otto por Nelson, "o mineiro só é solidário no câncer", aparece diversas vezes de forma quase obsessiva sugerindo que apenas as situações de desgraça, abrem precedente ao aparecimento episódico da solidariedade, destoando da constante falta de escrúpulos, de caráter, do gênero humano. Tal idéia, também nos remete ao escritor Dostoiévski, quando conjecturava que, se Deus não existe, tudo é permitido, ninguém precisa ter sentimentos, escrúpulos, moral, absolutamente nada. No enredo de Nelson Rodrigues, como uma tentação espectral, esta frase assombra o contínuo Edgard, que oscila entre aceitar a propodsta de se casar, por dinheiro, com Maria Cecília, filha do milionário patrão (Werneck) e manter-se honesto, casando-se com Ritinha, o amor de sua vida. Quando tudo parecia indicar que a trama se encaminharia para uma tragédia, Edgard nos salva através da nobreza de sua atitude, ao queimar o cheque com o qual seu patrão tentara lhe corromper.
"Por meio do gesto extraordinário de Edgard, Nelson nos livra de um final funesto e, ao fazê-lo, acaba por oferecer um espaço de salvação para o Brasil, um suspiro de esperança, de dignidade e de honestidade em meio à generalização da corrupção que se tornou ordinária entre nós, contaminando nossas relações privadas e públicas." (Marta Fernández e Sacha Rodrigues)
O espetáculo é uma produção da Companhia Theatral Os Ordinários Do Palco, com direção de Ana Zettel e vinte talentosos atores no elenco. Entre eles, a participação especial do ator e produtor Nelson Vinicius Odenbreit Rodrigues (Sacha Rodrigues), neto do dramaturgo Nelson Rodrigues. Em cartaz no Teatro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Centro - Rua Araújo Porto Alegre, 71 / 9° andar; sextas e sábados às 19 horas, até 20/12/2015. Vale conferir !
"Por meio do gesto extraordinário de Edgard, Nelson nos livra de um final funesto e, ao fazê-lo, acaba por oferecer um espaço de salvação para o Brasil, um suspiro de esperança, de dignidade e de honestidade em meio à generalização da corrupção que se tornou ordinária entre nós, contaminando nossas relações privadas e públicas." (Marta Fernández e Sacha Rodrigues)
O espetáculo é uma produção da Companhia Theatral Os Ordinários Do Palco, com direção de Ana Zettel e vinte talentosos atores no elenco. Entre eles, a participação especial do ator e produtor Nelson Vinicius Odenbreit Rodrigues (Sacha Rodrigues), neto do dramaturgo Nelson Rodrigues. Em cartaz no Teatro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Centro - Rua Araújo Porto Alegre, 71 / 9° andar; sextas e sábados às 19 horas, até 20/12/2015. Vale conferir !
Rogério Ferraz entrevista a atriz Giovana Benitez
Rogério Ferraz entrevista a diretora Ana Zettel
Rogério Ferraz entrevista o ator e produtor Sacha Rodrigues
Elenco reunido: João Garrel, Tati Pasquali, Jamile Kras, Ana Zettel (diretora), Isabela Mantovani, Mariana Mendonça, Yara Brazão, Clícia Zoé Brandão, Cassiano Barreto, Giovana Benitez, Danielle Dias, Vanja Freitas, Rodrigo Candelot, Anna Kessous, Pedro Pauleey, Macximo Bóssimo, Alfredo Garcês, Márcio Vidall, Alan Camara e ao centro Sacha Rodrigues.
"Quando fui convidada para dirigir"Otto Lara Resende Ou Bonitinha, Mas Ordinária a quatro meses atrás, confesso que hesitei,,, Texto potente, muitos personagens e verba nenhuma... mas... como resistir ao chamado de Nelson Rodrigues. É preciso coragem e confiança para se lançar no abismo que Nelson propõe. Coragem porque é uma altura vertiginosa e confiança porque ele é um gênio e empresta a corda para que não nos espatifemos no solo. Eleco, equipe e proposta modificaram ao longo dos ensaios, foram entrando atores e técnicos tão apaixonados pelo "anjo pornográfico", quanto eu e a qualidade subindo. Considero o meu maior mérito como diretora a capacidade de reunir profissionais da melhor qualidade em sinergia com este desafio. Desafio aceito, aqui está o espetáculo feito com meu melhor." (Ana Zettel)
Maravilhosa essa cobertura que seu Blig deu a nossa montagem de Bonitinha,mas Ordinária.Gratidão!Somos um grupo de atores que no amor e na garra,convidamos a diretora Ana Zettel para montarmos a peça.E conseguimos e estamos mega felizes por que o resultado está sendo super positivo.Obrigada.
ResponderExcluirAnna Kessous.