segunda-feira, 28 de outubro de 2013

VIDA IN CENA HALLOWEEN: ZUMBIS - O APOCALIPSE É POP







Ilustração do design gráfico Alex Ross, para a quarta temporada de The Walking Dead


 
VIDA IN CENA – HALLOWEEN: ZUMBIS – O APOCALIPSE É POP

A aventura neocolonialista norte-americana ocorrida entre 1915 e 1934, pelos países do Caribe, especialmente o Haiti, fez com que tradições eminentemente locais, se espalhassem pelo mundo ocidental.  Por aproximadamente vinte anos, soldados e civis americanos, foram influenciados por uma série de crenças populares, sendo a mais forte de todas, a de que os mortos poderiam voltar à vida, a partir de estratégias de feitiçaria.
No Cinema da época, filmes como Zumbi Branco tem o ator Béla Lugosi, já famoso por suas performances na pele do Conde Drácula, assumindo o vilão protagonista, um rico fazendeiro cujo hobby sinistro, é o de se dedicar a criar zumbis por encomenda, valendo-se de seus poderes de feiticeiro.  Neste período histórico, outros roteiros cinematográficos, reforçaram o estereótipo racista, de que os negros haitianos e de outras localidades, seriam conhecedores de magias demoníacas, rivalizando com o heroico homem branco.
No mundo contemporâneo, após o atentado do 11 de setembro, com o avanço da divulgação do terrorismo internacional pela diversidade de mídias, cada vez mais presentes em nosso cotidiano, a representação arquetípica do pânico perante o imponderável, se tornou explicitamente manifesta.  Diante de circunstancias ameaçadoras, inteiramente imprevisíveis pelo cidadão comum, emergia do inconsciente coletivo humano uma variedade de mitologias que passaram a orbitar em torno da ideia da abdução zumbi.  Vírus desconhecidos, alçados à condição epidêmica, por efeito do acelerado progresso da globalização, nos condenariam à realidades predatórias, expondo nossas fragilidades, nossa incapacidade de defesa; transformando-se em tema de filmes e seriados, cuja visão apocalíptica assumiria um caráter de fenômeno pop, para as novas gerações.
O terror despertado pela sensação de insegurança, de abandono, parecia responder a crescente decepção do povo com paradigmas ideológicos e institucionais, até então ilusoriamente autosustentáveis, inabaláveis, atuando na contramão de um considerável fascínio, ainda que mórbido, pela compulsiva ideia persecutória, de que o outro por mais dócil e amigo que aparente, pode se transformar no mais impiedoso algoz de uma hora para outra, objetivando interesses ególatras naturalmente amorais.  A existência de psicopatas ou sociopatas, que se utilizam de uma inteligência manipuladora, a fim de subjugar e escravizar a autoestima de vítimas sugestionáveis, “zumbidificando-as” por assim dizer, seria uma analogia pertinente com a força do mito.
Recentemente no Cinema, Guerra Mundial Z (Marc Forster), Extermínio (Danny Boyle), a saga Resident Evil ou as temporadas bem sucedidas na TV, do seriado The Walking Dead, evidenciam o grau desta projeção arquetípica, nitidamente impressa no imaginário popular.  A imagem psicológica do hospedeiro, servo indefeso de um invasor incontrolável, não seria, no entanto, fruto exclusivamente de nossas fantasias inconscientes, mas também de um paralelo biológico com a estrutura de sobrevivência de vários microorganismos, que certamente serviram de inspiração para os cineastas.
Exemplificando esta realidade, poderíamos citar o modus operandi de certos parasitas, como o toxoplasma gondil, que é capaz de manipular o cérebro de roedores, fazendo-os perder o medo natural de gatos.  Normalmente o rato ao identificar o cheiro da urina de felinos, se afasta o mais rapidamente possível.  Mas no caso do animal infectado, ele perde esta defesa inata, aumentando consideravelmente a produção do neurotransmissor dopamina, que entre outras funções, costuma expor o organismo a emoções fortes, como desafiar o perigo diante do mais temido predador.  A estratégia instintual do parasita visa à reprodução da espécie dentro do  intestino do gato, seu mais produtivo ambiente hospedeiro.  Outro parasita muito comum nos pântanos da Califórnia tem por hábito recobrir o cérebro do peixe, formando um espesso tapete, assumindo o controle para induzi-lo a subir cada vez mais próximo da superfície; levando-o a saltar de forma exibicionista, a fim de que fique bem mais visível ao alcance das aves.  O peixe-zumbi enlouquecido, uma vez devorado propiciará ao parasita atingir seu verdadeiro destino: o retorno ao organismo dos pássaros, seus “hospedeiros definitivos”, para que possam neste ambiente conseguir a procriação.  Em ambos os exemplos, os parasitas ao serem expelidos pelas fezes, voltam ao habitat externo, dando continuidade ao ciclo de contaminação discretamente invisível.
É interessante observa que certos tipos de fungos, estabelecem o seu ciclo de vida dentro de formigas, levando-as a jornadas suicidas.  Tal processo operacional exercido com velocidade e precisa comunicação grupal, pode ter servido como modelo, para as cenas de ataques dos mortos-vivos em Guerra Mundial Z.  Na sequência em que, alertados da presença humana por trás da imensa muralha de proteção da cidade, os zumbis iniciam uma escalada coletivamente frenética e caótica, vencendo os limites da altura, atentamos para a orquestração de movimentos incessantes, obedecendo a uma necessidade instintual única: a perpetuação viral; como se todos formassem o corpo de uma entidade devastadora.
Já não é de hoje, que a medicina se dedica a estudar parasitas, fungos e até determinados insetos, que conseguem criar seus próprios zumbis, pelo fato de que a capacidade demonstrada de dominação do sistema nervoso do hospedeiro, a partir de substancias secretadas desses organismos, poderiam hipoteticamente ser instrumentalizadas para o controle de doenças que afetam o cérebro humano, como o Mal de Parkinson, por exemplo.  Estes estudos já são desenvolvidos pela medicina tradicional tibetana, há muitos séculos; chegando muito recentemente ao conhecimento ocidental.  E existem indícios de que a natureza dessas substâncias, poderiam futuramente revolucionar a nossa medicina, ao serem usadas em experiências para evitar a rejeição de órgãos transplantados, eliminação de tumores, ou até mesmo em psicofarmacologia, como antidepressivos.
 Em linhas gerais, a cultura zumbi, assim como outros temas que começaram marginalizados, restritos apenas ao domínio visionário da arte ou dos mitos religiosos, quando analisados e unificados à pesquisa científica, alcançam oportunamente inimagináveis benefícios à nossa qualidade de vida, para que abandonemos finalmente, a postura tragicamente passiva, como hóspedes de um incerto amanhã.




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